EJEAmb – Consultoria Ambiental

contaminação por mercurio

A contaminação por mercúrio está matando as populações ribeirinhas na Amazônia, mas não da maneira que você pensa!

Já é sabido há tempo que a exploração ilegal do minério de ouro na Amazônia causa impactos ambientais praticamente incalculáveis. O uso de mercúrio para encontrar e clarear o ouro faz com que rio e seus barrancos se contaminem com o metal pesado.

O risco ambiental é geral, o mercúrio é um metal caracteristicamente cumulativo e seus impactos são sentidos na água, terra, fauna e flora. Por não fazer parte do metabolismo de seres vivos, o metal se acumula nas plantas, futuramente consumidas por herbívoros e posteriormente por carnívoros. Ao passo que quanto mais alto for seu grau na cadeia alimentar, mais mercúrio o animal em questão terá ingerido ao longo de sua vida.

O caso do rio Tapajós.

Em 2022, foi publicado o artigo ‘’Mercury Contamination: A Growing Threat to Riverine and Urban Communities in the Brazilian Amazon’’. Essa publicação estudou o impacto do mercúrio em populações localizadas a 300 km de focos de mineração ilegal no rio Tapajós e foi realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará e da Fundação Oswaldo Cruz.

Os resultados foram impactantes. Mais da metade de toda a população residente das margens do rio tem níveis de mercúrio acima do recomendado pela OMS. E o panorama piora com o tempo: “A sintomatologia da exposição ao mercúrio é variada, mas em geral os sintomas começam mais brandos e vão se agravando com o tempo, conforme a exposição vai piorando”, acrescenta Heloisa Meneses, da Universidade Federal do Oeste do Pará.

Degradação ambiental causada por mineração ilegal.

Os impactos à saúde.

Heloisa Meneses – “O mercúrio é um tipo de metal pesado que não tem função no corpo humano, por isso quando encontrado no corpo humano pode ser prejudicial à saúde. Os efeitos da exposição dependem da forma de mercúrio a qual se foi exposto e, também, do tempo de duração da exposição.

No caso da pesquisa, avaliamos a exposição crônica ao metilmercúrio. Moradores da região que possuem um hábito frequente de consumir peixe, ano após ano, várias vezes por semana, estão sob risco de exposição e consequentemente de desenvolver problemas de saúde, como dor de cabeça, fraqueza muscular, tremores, déficit de memória e problemas de visão e audição, entre outros. A sintomatologia da exposição ao mercúrio é variada, mas em geral os sintomas começam mais brandos e vão se agravando com o tempo, conforme a exposição vai piorando.

A OMS considera como aceitável (baixa exposição) um nível de até 10 microgramas por litro de mercúrio no sangue. Níveis de mercúrio acima deste valor são considerados como alta exposição, pois já podem causar danos à saúde humana.

Dos 462 participantes da pesquisa, 203 eram da área urbana e 259 da área ribeirinha. Destes, 349 (75,6%) tinham níveis de mercúrio acima do considerado aceitável pela OMS, e a média de mercúrio encontrado nestes foi de 48,3 microgramas por litro de mercúrio no sangue. Entre os 203 participantes da área urbana, 57,1% estavam com os níveis acima de 10 microgramas por litro de mercúrio no sangue, com uma média de 21,8 microgramas por litro de mercúrio no sangue. Portanto, encontramos participantes com níveis de alta exposição ao mercúrio tanto na área urbana como na área ribeirinha.”

O caso mais impressionante foi de uma jovem residente na aldeia Sawré Muybu. A criança de apenas 11 meses realizou um teste de contaminação por mercúrio a partir do fio de cabelo e a concentração constatada foi de 19,6 µg.g-1 na amostra. É importante ressaltar que essa criança passará a vida toda exposta a mercúrio e a concentração tende a aumentar com o tempo.

Conclusão inesperada:

Os resultados mostrados até aqui dão a impressão que só o fato de existir contaminação por mercúrio no rio já é o suficiente para correlacionar a exposição a mercúrio com a contaminação da população, mas não!

O estudo não encontra relação à exposição de mercúrio por ingestão ou uso de água contaminada com o aumento da concentração do metal na população. O problema está no pescado.

Sim, o artigo mostrou que existe correlação direta entre a ingestão de peixes pescados no rio Tapajós é o verdadeiro vilão. Entretanto proibir o seu consumo não basta.

Após os desdobramentos econômicos da pandemia, a proteína animal vem ficando cada vez mais inacessível e proibir a pesca no rio Tapajós não se apresenta como opção viável. Essa ação só restringiria mais ainda a alimentação local e provavelmente geraria insatisfação local.

Só parar a mineração não basta.

O mais impressionante é que cessar a mineração ilegal e a contaminação do rio por mercúrio não seria suficiente.

A medida considerada drástica de inibir totalmente a mineração ilegal as margens do Tapajós, não acabaria com a contaminação da população. Essa atitude é necessária e essencial para a sobrevivência dos ribeirinhos, mas teria de vir acompanhada de recuperação das áreas degradadas, reflorestamento e descontaminação ativa do corpo d’água.

Acontece que a acumulação de metais no leito do rio, levará anos para se autodepurar e as vegetação local ajudaria no processo. Ainda sim, a fauna local sofrerá com tal contaminação por gerações, e essa será consumida pela população humana residente.

A conclusão é que apenas inibir não basta, o Estado necessita agir ativamente para descontaminar e recuperar áreas de garimpo ilegal.

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