A COVID-19 chegou no Brasil infectando milhares de pessoas e causando um grande impacto no país. Mesmo com os números de casos oficiais já sendo altos, análises de esgoto expõem o quão maior esses números realmente são e ajudam a mapear as regiões com maior incidência de casos. Essa constatação mostra que o vírus SARS-CoV-2 já estava em circulação muito antes da pandemia começar.
O saneamento básico é um direito da população assegurado pela Constituição, porém, são aproximadamente 35 milhões de brasileiros sem acesso ao abastecimento de água e 100 milhões sem acesso à coleta de esgoto, medidas essenciais para a prevenção de doenças.
Com um sistema de saneamento tão desigual, uma notícia “boa” é que as chances do esgoto ser uma possível fonte de transmissão do vírus é baixa, pois estão sendo encontrados o RNA viral, e não o vírus com sua estrutura original, fato que o deixa inativo para novas infecções. Analisar as tubulações e estações de esgoto é importante, pois “[…] testá-las permite uma análise instantânea da situação de uma cidade. Uma vez que é difícil rastrear e testar em massa toda a população[…]”, diz o virologista Rômulo Neris.
A questão é que, para o vírus ser mapeado, é necessário que os municípios tenham boa parte de sua população alcançada pela rede de esgoto, o que não condiz com a situação do Brasil.
Além disso, o fato de a contaminação pelo esgoto provavelmente não acontecer, não anula o outro sobre a população da periferia ser a mais vulnerável, já que ela não tem a garantia de funcionamento dos serviços mínimos de fornecimento de água, não podendo aderir às medidas de prevenção da doença, como afirma o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
A qualidade de vida dos habitantes de um país e a deterioração do meio ambiente está diretamente ligada à questão do saneamento. A higiene social (fornecimento de água potável, coleta de lixo, tratamento de esgoto, limpeza das vias públicas, etc) é vital para a produtividade da nação e para evitar uma onda de sucessivos problemas, sejam eles doenças em que o esgoto é o meio de transmissão, ou a poluição dos lençóis freáticos, por exemplo.
Para tentar entender a dinâmica de circulação do vírus SARS-CoV-2, foi criado o Monitoramento COVID Esgotos, projeto-piloto da ANA (Agência Nacional de Águas) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis- UFMG), em parceria com outras entidades. São analisadas amostras de efluentes de algumas sub-bacias de Belo Horizonte e Contagem.
Por intermédio dessas análises, é possível chegar à uma estimativa do número de contaminados, incluindo os assintomáticos e subnotificados que não foram colocados dentro do número oficial de infectados. Em BH, no dia 5 de junho, foram divulgados 2.100 casos pela Prefeitura; paralelamente, os pesquisadores avaliam que esse número esteja, na verdade, em torno de 21.000.
Ao redor do mundo todo, estão fazendo o mapeamento epidemiológico pelo esgoto e tentando entender o porquê de Wuhan, na China, ter sido o epicentro da doença, sendo que o vírus já estava em circulação pelo mundo muito antes dos primeiros registros oficiais.
Aqui no Brasil, ele foi encontrado em amostras do esgoto de Florianópolis em novembro de 2019, por pesquisadores da UFSC. Na Espanha, por sua vez, ele circulava desde março de 2019, segundo os pesquisadores da Universidade de Barcelona.
Por meio disso tudo, é possível perceber o quão importante é ter um bom planejamento e sistema de saneamento básico, e a necessidade de investir nessa área para o melhoramento não somente local, mas também o mundial.